quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Capitulo 5º: Funeral

Aquele era um dia triste, todos ao meu redor estavam em dor, abaixo de mim estava embalsamado o corpo daquela menina que eu tanto amava. Até o céu chorava.
O padre falava algumas coisas em frente ao túmulo, mas na verdade ele nem conhecia a menina que ali estava...
Cada memória ainda ardia em minha memória, e ainda me arrependo do que fiz. Ela não falava comigo desde então.
Susan tinha, naquele 17 de agosto, vinte anos. Tinha concluído com sucesso o seu ensino médio, tinha passado em uma ótima faculdade, e agora, quero dizer, naquela época, ela estava cursando jornalismo, tinha grande vontade, desde criança de viajar por todo o mundo, conhecendo de tudo, entrevistando pessoas. E com o tempo isso foi crescendo, até que conseguiu se formar no que sempre quis.
Naquele dia, um domingo, nos reunimos na casa de meus pais, para ficarmos todos juntos, íamos para o almoço e voltávamos somente a noite, esse era um costume que tínhamos desde que eu era pequeno.
Aquele dia foi diferente, porque ela não foi sozinha. Junto com ela, entrou na sala um rapaz alto, com seus vinte e dois anos mais ou menos, tinha um corpo esbelto, olhos escuros, um cabelo curto. Ele tinha também alguns adornos nas orelhas. Tinha os dentes brancos, uma pele bem clara. E ainda me lembro como se fosse hoje, estava vestindo uma camisa fina de mangas compridas. Ela era preta com listras brancas quase imperceptíveis, estava com uma calça Jeans e um all star branco com detalhes pretos.
Ela estava feliz, com um sorriso que ia de uma ponta a outra do rosto. Era seu primeiro namorado.
Aquilo pra mim foi a maior ofensa que poderia existir. Eu não aceitava o fato de minha pequena filha tinha crescido, e fui totalmente contra isso, a humilhei na frente de seu novo namorado.
Ela não aceitou isso de forma alguma, e depois desse dia, ela nunca mais foi a mesma comigo.
Aconteceu que tempos depois desse dia, eles terminaram, não tinha dado certo, mas mesmo assim, ela nunca mais falou comigo, o que tinha magoado não era eu ter rejeitado o namorado dela, era eu ter rejeitado a decisão dela, eu a magoei de forma que nunca mais mudaria.
“Susan foi uma boa menina durante sua vida, que Deus a tenha.”
As palavras do padre me acordaram do meu transe.
Deus nunca teria sido muito presente na minha vida, eu não acreditava muito nesse tipo de coisa.
Junto comigo não estavam muitas pessoas. Reunidos ali éramos sete. Eu, o padre, o Doutor Chase, Maria e Elisabeth, que eram duas amigas intimas de minha filha, Claudia, que era minha ex-mulher, e sua mãe.
“em nome do pai do filho e dos espirito santo, amém”
Ao redor do buraco cavado no chão tinham milhares de folhas que enfeitavam o cenário, aquela terrível cena de horror agora se transformava em uma linda tarde de outono, Susan sofrera muito, mas agora tinha um sepultamento que apesar de triste, era belo. Agora eu podia ver a paz em seus olhos.
Essa seria a ultima vez que veria minha filha.
Dei uma olhada bem atenciosa, prestei atenção em todos os pequenos detalhes que podia ver do que o assassino tinha feito. E com mais uma olhada, vi todos os pequenos detalhes de seu rosto, como ela havia mudado. Relembrei tudo o que tinha passado com ela, sua infância, seu crescimento, adolescência. Susan nunca tinha sido uma filha ruim, muito pelo contrario, eu me orgulhava muito dela.
Senti uma lagrima rolando em meu rosto.
Ao meu redor as pessoas faziam o sinal da cruz, porém eu continuei quieto, observando aquilo que fora tudo pra mim.
Eles fecharam o caixão, o colocaram no buraco, e ali se foi. Aquela seria a imagem que eu carregaria pro resto da minha vida.
***
Os médicos legistas disseram que tinham feito muitos cortes nela que a causaram muita dor antes de morrer, disseram também que aquilo não tinha sido rápido, e que o único corte que poderia ter levado a sua morte era um corte embaixo do braço que teria perfurado sua artéria braquial. E disseram ainda, que tinham marcas perto de seus olhos que indicavam que ela tinha sido vendada, e que para que não escutasse nada seus tímpanos teriam sido furados,além disso, sua língua tinha sido precisamente cortada.
Não me impressionava que tinha muitas coisas em comum com a morte que acontecera poucas semanas atras, o que me deixou pensando foi o porque dos tímpanos furados.
Revirei alguns papeis das investigações, li todos os registros, porém, como sempre, nada.
Não tinha nada que pudesse nos levar a alguma pessoa, e nos até agora só tínhamos um suspeito, que até agora não tinha sido encontrado, esse era o namorado atual da minha filha, que não estava presente na cena do crime, e não achamos o seu corpo em lugar nenhum nos arredores da casa.
O nome dele era Joe, eu nunca o conheci, minha filha nunca mais me apresentou um de seus namorados. Minha ex-mulher ao contrario de mim o conhecia bem, quando a fui interrogar a respeito dele, ela disse que ele era um bom homem, e que nunca o tinha visto fazer algum mal a nossa filha, disse também que ele aparentava a amar muito, e que pretendiam em breve se casar.
Ela disse que ele tinha viajado para uma convenção e que voltaria em poucos dias.
Mandamos policiais atras dele, como principal suspeito ele teria que estar na cidade, e tínhamos que interroga-lo o mais rápido possível.
Aquele dia tinha sido muito difícil para mim, arrumei minhas coisas, entrei no meu carro e fui para casa, descansar porque eu não conseguia trabalhar direito com tudo aquilo na cabeça.
Deitei-me em minha cama, e caí em um profundo sono, sem sonhos, apenas aquele escuro durante toda a noite, parecido com o escuro que tinha se tornado agora a minha vida.

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