sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Capitulo 7º: No one can see. No one can hear. No one can talk about

“Quantos anos tem Elizabeth?”
“Vinte e seis”
“Poderia saber em que trabalha?”
“atualmente não estou trabalhando com nada...”
Isso me facilitaria muito trabalho.
“Chegamos.”
“Muito obrigada doutor Chase.”
“De nada”
Esperei-a entrar em casa, para poder voltar ao hospital.
O meu dia de trabalho foi mais sossegado do que eu pensava que seria. Não tive nenhuma cirurgia marcada, fiquei sentado em minha cadeira recebendo pacientes.
Quando meu expediente chegou ao fim, peguei minhas coisas e entrei no meu carro, um pouco impaciente, queria voltar logo para casa, e assim feito, tomei um banho, vesti uma calça e uma blusa escura, coloquei um gorro, pois aquela noite estava extremamente fria, e também não queria ser reconhecido... Peguei minha lanterna e meu binóculo e então saí de casa a pé.
Andando pelas ruas eu via todos se acolhendo em suas casas, poucos se atreviam a enfrentar aquela escuridão gélida, as previsões de tempo diziam que naquele dia a temperatura poderia chegar a oito graus negativos.
Cheguei à frente da casa de Elizabeth, e desde já comecei a pensar em uma solução para a seguinte situação: A casa dela era cercada de outras casas, em uma grande vizinhança.
Adentrei um pouco a pequena floresta que ficava em frente a sua casa, e lá subi em uma árvore que tinha um porte pouco maior que o das outras. Peguei o binóculo que carregava comigo e comecei a observar pelas janelas da casa, tudo o que ela fazia, cada passo, todos os seus afazeres domésticos, marcar os tempos que ela demorava em fazer tais coisas.
O namorado dela não era grande ameaça, pois voltava do emprego tarde da noite, quando o fazia ela já estava dormindo a algum tempo.
Fiquei ali os esperando acordar, o dia seguinte era um domingo, eu não teria que ir pro trabalho, então madruguei naquela árvore os observando.
Durante a noite, não aconteceu nada de mais, ele levantou uma vez para ir ao banheiro, e ela duas, em uma delas foi ao mesmo lugar que ele, e na segunda foi beber um pouco de água.
Ela acordou às sete da manhã, tomou um banho, escovou os dentes, e então foi para a cozinha, que foi um dos poucos lugares da casa que eu não conseguia ver de onde estava. Vi algumas vezes ela indo de um lado ao outro da cozinha, e depois de algum tempo ali dentro ela foi para a sala aonde arrumou a mesa para o café da manhã.
Ela fez waffles, preparou café e também um suco, e colocou algumas frutas na mesa.
Depois disso, ela subiu para chamar seu namorado, que levantou ainda com sono, molhou o rosto, escovou os dentes, e desceu para o desjejum.
O dia foi muito monótono, não fizeram nada de mais durante ele, e as duas semanas que os fiquei observando se seguiram igualmente.
A terceira semana, foi um pouco diferente, não para eles claro, para mim. Andei pelas ruas da cidade, e também no entorno da cidade à procura de algum lugar que fosse afastado o suficiente para que ninguém pudesse ouvir os gritos daquela menina.
Uma casa que ficava já fora da cidade me chamou a atenção, ela aparentava estar abandonada, durante o tempo que eu tinha naqueles dias de semana eu fiquei observando aquela casa, e não aparecia ninguém. Com o chegar acolhedor da noite, vesti as luvas que ficavam no porta malas do meu carro, pulei o muro da casa, e entrei.
Lá dentro parecia a cena de um filme de terror, as paredes eram de uma madeira muito escura, que estava apodrecendo, com luzeiros fracos que deixavam um ambiente sombrio. Teias de aranha para aonde olhasse, varias imagens grudadas nas paredes, figuras de santos, que olhavam com tristeza. A natureza ainda orquestrava uma musica de fundo, aonde os assobios do vento, o ranger das árvores, berros estridentes de alguns animais na mata que contornava a casa tocavam uma bela sinfonia. E uma das coisas que poderia a deixar mais desesperada, nenhum sinal de civilização por perto.
***
Era chegada a hora.
Aquele era o dia perfeito. Separei alguns instrumentos que seriam essenciais para aquela noite, entre eles, o bisturi, uma agulha de costura, e uma linha especial, ela era mais grossa, e mais resistente do que as linhas normais.
Esperei ansiosamente as quatro horas da tarde, que era a hora em que ela ficava sozinha em casa.
Toquei a campainha, fiz uma cara assustada, com medo.
“Dr. Chase? O que aconteceu?”
“Elizabeth, por favor, venha comigo, eu acabei de ser chamado para uma urgência, e… eu não sei bem como te dizer isso, mas... Ele sofreu um acidente. Eu não sei se ele vai...”
O medo era nítido em seus olhos, ela correu para o carro ao meu sinal, entramos e então aumentei um pouco a velocidade para ela pensar que estávamos indo ao encontro de seu amado, Mas como já era previsto, depois de um tempo, ela começou a estranhar o lugar que a gente estava indo.
“Doutor, tem certeza que era mesmo ele? Não costuma vir por esse lugar da cidade, receio que tenha se enganado.”
“Não Elizabeth, eu não me enganei. Deixe-me explicar.”
Peguei a seringa que estava do meu lado, e a apliquei-a em seu braço. Na mesma hora ela apagou.
Ela acordou com um pano na boca, com amarras nas mãos e pernas, estava enrolada em um cobertor.
Seus olhos cor-de-mel correram de um lado para o outro da sala, procurava a mim.
“Elizabeth?”
Ela então me viu ali sentado a sua espera.
Deu um berro tentando pedir socorro.
Levantei meu bisturi, e fiquei olhando para ele, vagando em alguns pensamentos.
“Eu sinto lhe dizer... mas... Brian não resistiu aos ferimentos... ele está morto.”
Ela deu outro grito abafado pelo pano na boca, e se quebrantou em lagrimas.
“Eu fiz de tudo para salvá-lo, mas não foi possível.”
Agora eu olhei para ela, o bisturi estava entre meus olhos.
Ela olhou pra mim com medo, mas não era esse o sentimento que suas feições mostravam, era a dor, não física, pois essa ainda estava por vir.
Levantei-me da cadeira me aproximando da cama, e sentei ao seu lado.
Ela tentou gritar mais algumas vezes, mas nenhuma teve sucesso, ela continuava lá.
Aproximei meu rosto dela, de um jeito que eu conseguia sentir o seu respirar pausado, ela estava em estado de choque. A dor era tanta que ela não conseguia nem mesmo se mexer, e sua respiração vinha aos poucos.
Peguei em sua mão, e retirei a aliança que estava em seu dedo.
“Acho que sem ele entre nós você não vai mais precisar disso.”
A cada segundo as lagrimas rolavam em maior quantidade e mais rapidamente, e a respiração baixava de frequência.
Passei a lamina com leveza por seu braço, eu vi a pele dela se abrindo, ficou à mostra uma camada branca, que logo depois de alguns instantes foi pintada de vermelho. Então veio o primeiro urro de dor.
Os olhos dela tremiam, naquele estado ela não tinha controle sobre seu corpo. Lá dentro era somente uma prisão.
O ritmo da respiração se diminuía cada vez mais.
“Mas você não precisa se preocupar, ele morreu lentamente, e sofreu o suficiente. Ele podia sentir cada gota de seu sangue caindo no chão. E sentiu a vida saindo dele, segundo a segundo, o tempo que se decorreu do momento do acidente até o a hora de seu óbito foi mais demorado do que toda a sua vida.”
Ela deu uma respirada mais forte, e em seguida soltou todo o ar nos soluços de seu choro.
Outro corte.
“uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuur”
O grito abafado dela novamente não foi o suficiente.
À medida que cortava sua pele, eu podia ouvir o barulho da lamina a rasgando.
“uuuuuuuuuuuuuuuuuur”

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Muitos golpes já haviam sido desferidos.
Tirei o pano de sua boca.
“Você fez algo para o ajudar?” Sussurrou ela.
Ela não ligava para o que seus próprios problemas, a maior dor era sua perda.
Essa pergunta eu não respondi.
Peguei a agulha e a linha que eu tinha trago, e me sentei ao lado dela.
“Lamento te dizer, mas, você não pode contar pra ninguém o que aconteceu aqui hoje.”
“Eu não irei, somente me fale que Brian está bem.”
“Receio não poder fazer mais nada”
Com a agulha perfurei o canto da boca dela, no lábio inferior. Um pouco de sangue molhou a linha.
Dessa vez o grito dela foi mais audível, Já não estava mais abafado. E aos poucos ela voltava a ter os movimentos. Já era tarde de mais.
A boca dela ia se fechando cada vez mais, e ela não conseguia mexer as partes costuradas, e assim foi, durante alguns minutos, que por sinal demoraram horas para ela. Depois de um tempo a boca dela tinha sido completamente costurada, comecei e terminei no mesmo lugar da boca.
O corte que eu fiz dessa vez era maior e mais profundo que os outros, cortei desde o começo de seu tórax, até o final de sua barriga.
O grito dela, mesmo com a boca atada, foi ensurdecedor, e com a força que ela fez, a pele dela que estava segurando a linha de costura cedeu um pouco, vários cortes se abriram onde estava a linha, e a boca dela começou a sangrar. Com isso veio mais um grito, e assim, a pele cedeu mais um pouco, aumentando ainda mais o corte.
O tronco dela estava completamente manchado de sangue, e esse já escorria pelo colchão onde ela estava deitada.
Pouco a pouco eu vi as forças dela se esvaindo. Sua respiração diminuía novamente o ritmo, o pulso dela era mínimo, Elizabeth não tinha mais sangue para correr em suas artérias, seus olhos já não tremiam mais como antes, os músculos que antes contraídos por causa do choque agora começavam a perder as forças.
Uma ultima lagrima rolou em seu rosto.
Seu olhar se perdeu naquela sala.
Elizabeth estava morta.
Sentei-me no sofá, e nada passava pela minha mente, nenhum pensamento, nada, somente um alivio. Eu relaxei por alguns momentos, fiquei ali sentado.
Decorrido mais ou menos uma hora, fiquei olhando para o corpo dela sem vida, eu me levantei, e então peguei tudo o que tinha usado, fui à cozinha da casa, e limpei. Entrei no meu carro, tirei minhas luvas, e finalmente dirigi de volta para casa.
Sem ligações para a policia, sem nenhuma cirurgia delicada, o corpo dela ficaria ali até que alguém sentisse o cheiro de putrefação.

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